quarta-feira, 20 de junho de 2012

Sonho e fuga.

Daí a pele dela se arrepiou, como se num segundo toda a rotação da terra ficasse em lentidão. Seus olhos fixaram bem dentro dos dele. E foi um compasso, um laço, um traço... Desenho! A arte do corpo era pouco, suas almas se cruzavam em derradeiros barulhos em silêncio. O toque, o cheiro, a pele, o faro aguçado a procura da mesma coisa. Devagar, foi tudo muito devagar, mas parecia ser rápido demais. Tempo não era suficiente. Duas, três, quatro vidas, não seriam suficientes. A boca abria em centímetros como se quisesse babujar alguma palavra tosca. O vento que entrava por debaixo da porta fazia com que os seios dela tomassem forma de ataque. A fissura, o desejo, o gosto, o desejo, o gosto, do desejo, do gosto, que é desejo, que é gosto. Um sorriso em retirada, para um beijo! Afastaram-se, observaram um ao outro, despidos. Frontais, sinceros, corruptos um pelo outro. O barulho da chuva na janela fazia que o frio se transformasse em diluvio de chamas de fogo. Constelações em seus corpos, vibração em suas almas. Se puseram a se amar para nunca mais abandonar...
Acordou às sete horas da manhã, era sonho? Era mentira? Onde estava ela?
No seu planejamento de mundo, ela sempre esteve dentro dos seus olhos. Mas ela foi embora. No embaraço doloroso da vida, ela partiu. Correu para longe, onde havia outros campos. Quais seriam seus novos amores?
No quadro em que ele moldou, ela sempre foi sua imagem mais bonita. Ele mentia, ele errava... Mas ele amava tanto, à desejava tanto. Seus dias poderiam acabar por um abraço de reencontro.
Mas era cedo, ele precisava de colocar suas roupas nos devidos lugares, pois seu quarto estava uma bagunça. Tivera que tomar um banho, pois o orgasmo do sonho, fez com que ele suspirasse! Saiu pelos corredores estreitos da casa, procurando algum cheiro que sobrará. Nada restou. Ele ficou estatizado ainda com os vasos quebrados, com os beijos que ainda estavam guardados. Seu corpo sentia frio, e as fotografias não mentiam a história. "Eles foram além do ódio." Foi a primeira frase que o dia havia lhe presenteado. Ele se matou, ele morreu, ele já não mais vivia. Os remédios não foram suficientes. Então, ele não morreu, ele viveu. Encontrou na nudez solitária, uma forma estranha de se amar mais. As pedras que construíram muros e estavam espalhadas pelo chão, só faziam que ele as juntasse devagar, não para construir outra edificação, mas para guardar o que era estrutura. Ele decidiu não se casar, não ter filhos, queimou a poesia, riscou o CD.
E no almoço, saudade.

Raphael Ventreschi.

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