quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Dez da noite.

Com um cigarro na mão acendeu uma vela pela falta de energia que prendia os cômodos grandes do seu apartamento. Iluminou, fumava se deliciando com pouca poesia pelo triste fino silêncio que a falta de paz lhe entregava. Seu suor seguido pelo calor da luz bem próximo ao seu olho, causou em seus pensamentos graus comparativos, entre ele e o mundo. As pessoas caminhavam na rua, o som delas o atordoava, com expectativas da surpresa que lhe poderia corromper do lado de fora.
Não havia nada para enxergar além de dois olhos grandes e verdes. Ligou o rádio, tocava na estação uma música que desde já detestava. A escuridão parecia que o engolia pouco a pouco. O barulhar do relógio, fazia a agonia invadir seus poros. Acendeu outro cigarro! Não havia passado minutos longos, para minutos a menos de vida, na entrega desenfreada de seu vício, único e tórrido companheiro.
As paredes que antes conversavam com ele, se silenciaram num interrupto: adeus. Deus, onde estás agora?
Os tacos da casa não rugiam pois não havia outra alma para pisar neles. O vazio lhe parecia cheio. Com graça e desgraça ao mesmo tempo. Sorriu... Caminhou entre a escuridão para chegar na varanda, que lhe dava uma vista da panorâmica cidade que morava. Se lembrou do interior que viera, da saudade em lamentar até os dias atuais precisar visitar em finados os pais. Não tinha filhos, apenas uma brilhante carreira, corrompida pelo interesse do seu Whisky mais caro. Não, ele nem se importava tanto com as figuras do retrato em cima da mesa, que não conseguirá enxergar, pelo buraco negro que seu apartamento ecoava. Longe dali, fagulha de luz. Na imensidão de estar derrotado, descobriu na força de perder, a ausência de precisar necessariamente dormir ganhando. O que passava por sua cabeça, eram apenas fatos passados que não deixavam o rapazote em paz.
Menino moço, namorador. Com vinte e cinco anos um galã dessas novelas mais baratas, da emissora mais cara. Um talento nato, para não fazer nada, além de ser solidário com seu próprio sofrimento. Tudo era uno, apenas um, só para você. Nada se mistura, não tinha com quem se envolver. Parecia que as paredes foram de encontro uma com as outras. O espaço grande começou a se tornar pequeno.
Remédios foram clareados pela pequena luz que habitava a imensidão, foi pegado um a um pelo mocinho, nada bonzinho, das histórias nada fantásticas!
Bebericou um pouco de água. E não acordou nunca mais.
No fim, estirado no chão como um cachorro velho. A luz do amanhecer invadiu  a sala de estar, e lá estava ele. Debruçado em meio a seus pecados, de pensar em ter pecado demais.
Já não mais vida, nem erros. Agora, perdão!

Raphael Ventreschi.

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