segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Então, amor. Ela, eu. E nada mais precisa de ser resto no mundo.



Estava sentadinho ali, como quem não queria nada. Fui me achegando... Delicadamente me sentei ao seu lado, ofereci um dos meus cigarros amassados que estavam dentro do bolso, você me disse: Não! De principio com uma cara meio nervosa olhou sistemática para os meus lábios rejeitando-os. Eu mais do que depressa dei dois passados sentados para o lado esquerdo que me afastava de você.
Condessados ao silêncio, tirei meu ouvidor de músicas da mochila. Você olhou para mim e disse que estava no primeiro colegial, mais do que depressa, pausei a música e consegui fazer minha língua desembaraçar naquele lance de nervosismo adolescente. Eu apenas sorri.
Meu pensamento: Que idiota imbecil. Ela, nunca olhará para você, com essa sua cara de quem está mendigando atenção e uma mudez em grau nervoso.
De volta para a Praça na primavera.
Eu alguns segundos depois de pensamento acelerado. Respondi: Eu também! Ela então me disse: Empreste-me então um cigarro deste, mas com uma propriedade de quem iria me devolver um dia.
Mais do que depressa tentei arrancar o maço que já havia colocado novamente no meu bolso. Me embaracei um pouco, mas enfim... Consegui! Ela pegou um dos meus tortos cigarros baratos, e com seu esmalte preto, ficou segurando. E eu fixamente olhando pra ela, não me liguei que faltava alguma coisa. Ela ressalvou a falta: Ei, eu preciso do isqueiro. E com um olhar simpático abaixou os olhos e acendeu o cigarro. Mas, dessa vez não olhou para meus lábios os rejeitando. Na verdade, nem olhou.
Ficamos mudos, nos cincos minutos subsequentes que dura um cigarro. No final, ela disse que precisava ir embora. Meu coração embalado tinha a presunção de gritar: Não! Mas, minha razão não disse nada, ela se afastou.
No outro dia, não matei aula e nem ela. Nos encontramos nos corredores da escola. Acredite, eu sorri! Ela apenas olhou para mim, como se fosse submissa a sorrisos. Me senti tão intrigado, precisaria correr quilômetros para fazer aquele constrangimento passar. Todas as vezes que ela estava perto de mim, eu ficava gelado, duro como uma grande árvore, acelerado como em um final de campeonato de futebol.
Passamos, e na verdade, eu queria era oferecer outro cigarro.
Na saída do colégio, ela veio em minha direção, não podia impedir do meu rosto ficar vermelho como se tivesse levado dois tapas no rosto com força e veemência! Ela se achegou, olhou dentro dos meus olhos. Os seus cor castanha escura, o meu castanho escuro quase preto. E disse: Está aí, seu cigarro, tratado não sai caro! Sorriu simpaticamente virou as costas e se foi.
Não me contive, corri atrás dela e roubei um beijo. Ela assustada, correu. Esta corrida parecia tão grande, me dava a sensação que ela se distanciava rapidamente de mim em segundos. 
Foi a primeira vez que chorei trancado sozinho no meu quarto, com medo de ter perdido o que me trazia as melhores sensações que a vida já havia oferecido.
No outro dia, na escola, as amigas dela, todas! Vieram me dizer sobre o amor grande que ela sentia pelo meu jeans apertado e minhas camisas coloridas. Pela paixão que ela via no meu all star, nos pulos de alegria que ela dava ao me ver chegar com os cabelos todos arrepiados.
Ela era sonho, e eu realidade. Eu era sua realidade, e ela, meu sonho. Não sei, mas parece que estávamos com medo de uma negação de ambas as partes.
Mas eu a apertei bem forte nos meus braços no recreio. E vocês acreditam, ela chorou. E me contou sobre todas as cartas que sempre escrevia e nunca me entregou. E eu disse tudo pra ela também. Sobre minhas fúnebres noites de sono, por estar com o pensamento apenas nela. Fizemos planos, sonhamos. O sinal tocou, e olha que pareciam os vinte minutos mais curtos da minha vida. Era muito assunto, muito para conhecer.
Saímos da escola e fomos tomar um sorvete e fumar outro cigarro barato. Eu e ela, começou assim...
Na formatura do terceiro colegial. Eu sentado em uma mesa, parecia que havia um buraco grande entre eu e as outras pessoas. Ela ainda não estava ali, meu anjo guia, minha amiga, meu amor, minha vida. Estava em transe de medo que ela não chegasse pelos problemas que ela teve com sua melhor amiga, dias antes da festa. Eu ligava interruptamente, ela não atendia. Eu ficava sufocado com a ideia dela não aparecer.
Eis que surge um anjo, com rosto transformado pela alegria de estar ao lado de sua melhor amiga. Acho que o atraso foi por isso. Porque até hoje ela não contou quais foram os motivos.
Dançamos a valsa, fizemos mais algumas promessas e rezamos pelos vestibulares.
No outro dia, pela tarde. Fomos atrás de nossos resultados ansiosos para irmos para o mesmo campus, ser felizes para sempre! Ledo engano, destino desgraçado. Intimidou nossa história em simplesmente nos separar por escolhas inconscientes.
Eu fiquei estático, havia conseguido passar em medicina. Ela ficou surpresa porque nunca imaginou que conseguiria sua bolsa em artes plásticas. Era um tombo de alegria com frustração. Eu não mencionei nada sobre separação e despedida, e nem ela disse nada sobre, dores e lágrimas.
Mas o tempo iria passar, a conversa precisaria acontecer. E novamente, eu fiquei noites sem dormir, pensando em como seria minha vida distante... Dela!
Duas semanas depois, ela foi até lá em casa, eu estava nas aulas de habilitação, e ela gelada com um cubo de gelo, sentada na minha cama. Minha mãe me olhou com um olhar entristecido assim que passei pela cozinha. Eu acredito que ela já pressentia. Foi tudo padronizado. Ela me disse que a distância seria horrível para o nosso relacionamento, que não daria para manter uma relação assim. Seca, fria, rápida. Pegou sua bolsa. E nunca vou me esquecer da saia longa dela passando sobre minhas pernas. Foi a última sensação dela que me sobrara.
Fiquei estático como se o mundo tivesse parado! Eu pensei em me matar, eu pensei em matar ela, eu pensei em desistir da faculdade, eu pensei em desistir, eu pensei em morrer, eu pensei em desistir, eu pensei em parar de vencer. 
Adormeci, chorando como um louco esvairado que é abandonado pela mãe. Acordei com as interrogações de sonhos na minha cabeça. E com o cigarro amassado no bolso.
Passou o natal e eu fiquei mudo, no ano novo sonhei com ela, pois passei dormindo.
Chegou o dia de ir para a tão sonhada Universidade! Peguei minhas malas, olhei nossa fotografia mais uma vez. O Ted e o Lui, os bichinhos que ela havia me dado no primeiro aniversário de namoro que comemoramos.
Neste dia eu não chorei, sabia que alguma coisa dentro de mim estava mudando. Troquei o número do meu telefone. E nunca mais eu a vi.. 
Mas a história não acabou!
Foram anos de estudo, residência. Eu estava preparado! Iria me tornar médico obstetra! Que delicia, mas minha felicidade sempre era pelas metades. Tentei me envolver com  a menina simpática do curso de medicina, mas não me foi ofertado amor suficiente. Nestes anos todos, não transei com ninguém. Só fumei um pouco de maconha e bebi altas doses de Uísque.
Meu pai, com muita luta e suor e juntamente com as economias da residência que eu havia executado, conseguimos montar minha clinica. 
No dia da inauguração, eu com aquele olhar sério, prevenido para qualquer embaraço que viesse a ocorrer pela timidez que sempre esteve presente em mim. Contava para alguns amigos sobre como havia sido emocionante trazer a vida pela primeira vez, como tinha sido gratificante o primeiro parto que eu executara. 
Com um cigarro amassado, veio em uma bandeja envolto a um papelzinho escrito: Eu estou esperando você ali fora de esmaltes pretos e olhar submisso agora para você! 
Não sei, a explicação para aquela sensação é indescritível. Eu fique assustado, perdido, sem foco. Perdi toda a pompa que havia treinado a meses para não deixar acontecer. Respirava, contava os segundos que ela poderia estar esperando. 
Eu fui lá fora, não havia ninguém. Eu fiquei muito decepcionado com a brincadeira de mal gosto. Na hora que me virei para entrar de novo, no pequeno jantar ofertado. Eis que eu ouço a suave voz dela! Chamando-me meio ofegante: Ei, eu estou aqui! Olhei para trás era ela. Mais velha, linda como sempre, sem o seu brinco no nariz e com uma tatuagem no pulso, escrito: Ele! 
Conversamos horas, horas. Todos os convidados foram embora e mal me despedi. Minha mãe no canto escuro chorava de emoção ao nos ver juntos. 
Falamos da faculdade, das bagunças que aprontamos. Ela me disse dos amores de estação que ela se permitiu viver. Conversamos mais alguma coisa. 
E ela disse assim: Quer casar comigo? Naquele momento, não sei em qual hemisfério eu me encontrava. Mas fazia quase nove anos que não nos víamos. E nossa mudança deveria ser grande, mas mesmo assim ela continuava apaixonada e eu também. 
Que amor é esse? Que preencheu as barreiras do tempo e conseguiu suportar a dor da distância? Que amor é esse? Que se guardou vivo durante tanto tempo, onde corpos e lábios não se encontravam?
Este era meu amor, este era o amor dela.
Nos casamos, tivemos três filhas maravilhosas. E até hoje eu durmo com meus braços, abraçados no aconchego do amor dela.
Não vivi mais nada na minha vida que não fosse a fissura de um amor que apenas bem me fez. Nunca consegui encontrar outra razão para viver que não fosse minha família. Encontrei na profissão de trazer a vida, razões o suficiente para viver minha vida. 
Foi na ilusão diária de viver um conto de fadas, que eu me faço seu príncipe todos os dias. E é nessa paixão que ainda vive e é avassaladora que eu digo. Eu amo você, para sempre!
E hoje, bodas de prata! 


Raphael Ventreschi.
http://www.facebook.com/pages/Raphael-Ventreschi/402073789846187

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