domingo, 15 de julho de 2012

Nem cantar, nem dançar.


Não canto mas subo no palco para dizer, enceno meus dramas, cumpro minhas tarefas. Então que ascendam as luzes, e comece a contar o meu tempo. Não me dê tanto tempo assim, posso ficar enrouquecido, mesmo não sabendo cantar. Vou subir os escadarilhos de uma fama que jamais irá me pertencer, e navegar nos artefatos da fotografia. Ouça, vou fazer seus olhos brilharem, e como fagulhas sujas do pó da minha intransição, você ira entender. 
Comece comigo o show, mas vá embora antes que ele acabe. Não desmonte o palco, me deixe sonhar mais um pouco. O domingo me serve de paradoxo de sonho. De coisas que eu jamais farei, mas que meus pés me levam a flutuar. 
Compraram então, dois, três laços vermelhos e embrulhou o pacote... Enorme, cheio de... Eu deixo você imaginar. 
Cada pedaço meu, seria uma forma imperfeita de montar sobras que ficaram pelos anos que a vida já me tomou. No meu sumo sagrado de "ralar" para ser, ficaram apenas os meus olhos em cima de uma mesa, meio escura no canto da sala perversa onde aconteceram todos os crimes. 
Mas eu continuo afirmando, eu não sei cantar. Se você ouvir vozes parecidas, é mentira. Este não sou eu. 
No meu sombreiro apenas um pingo de paixão para não afogar o amor que sinto. Amor este, que move, que transforma, que me faz sapatear. 
Também não sei dançar. Mas eu poderia fazer você sonhar com cada dedo talhado frio meu na sua cintura, levando dois para lá, dois para cá. 
Baldes de água fria, uns litros de leite podre, ovos. Porque eu não sei cantar! 
Fui vivendo, fui me traindo, fui me corroendo. Ascendendo, gemendo, perdendo, grunhindo. Sabe Zé, não tem história melhor que essa, esse Epílogo é curto demais para contar qualquer conto.
Minha resenha tá fraca, mas, franca. Dizem que a sinceridade é um dom, eu digo que é defeito dos piores!
Eu não sei cantar, dançar e nem amar. Não me ensinaram com cartilha bonita, e nem com letras grandes até aprender a escrever. 
Sou de um povoado, de duas cidades, de quantos Países quiser. Sou do norte, vim do Sul... Vou para o Sudoeste de mim mesmo. Mim que não conjuga verbo, mas soma, traz, reveste, aprecia. 
Na minha lentidão monumental de não ir para lá nem para cá, eu aprecio você a vinho tinto e queijo. Faço depois umas promessas e fujo. 
Fujo daqui, fujo de mim, fujo para mim. Corro para lá, coiso aqui, arrumo ali. Indecifravelmente eu vou afiando meus sentidos para todas as coisas que venho a ouvir, e trabalho para não pecar mais. 
Ou nem tanto assim... 
Mas eu não sei dançar!

Raphael Ventreschi. 

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